Falar da Velha Guarda da Portela é mergulhar na essência mais pura do samba, onde tradição e respeito caminham lado a lado. Mais do que um grupo musical, a Velha Guarda é um patrimônio vivo da cultura brasileira, responsável por manter acesa a chama da memória portelense e do samba autêntico. Sua origem está enraizada no coração azul e branco de Oswaldo Cruz, onde a Portela nasceu e se tornou uma das maiores referências do carnaval carioca.
Nos anos 1950 e 1960, o samba passava por transformações, e muitos dos grandes mestres que ajudaram a construir a história da Portela corriam o risco de cair no esquecimento. Foi então que um jovem apaixonado pelo samba, Paulinho da Viola, decidiu mudar esse destino. Inspirado por sua vivência na escola e pelo respeito aos mais velhos, Paulinho teve a ideia de reunir os antigos bambas da Portela, aqueles que carregavam nos versos e na voz a história do morro e da escola.
Com o apoio de Monarco, Manacéa, Alcides Malandro Histórico, Aniceto da Portela, Ventura, Jair do Cavaquinho, Casquinha, Chico Santana e tantos outros baluartes, nasceu a Velha Guarda da Portela, um movimento de resgate e valorização dos sambistas que ajudaram a escrever a trajetória da escola. Foi mais do que um reencontro; foi um ato de resistência, uma reafirmação de que o samba jamais poderia ser apagado.
Em 1970, o grupo lançou seu primeiro álbum, "Portela, Passado de Glória", produzido por Paulinho da Viola. O disco trouxe ao grande público sambas históricos que, até então, eram conhecidos apenas dentro das rodas portelenses. Canções como "Lenço" (Monarco), "Quantas Lágrimas" (Manacéa) e "Vivo Isolado do Mundo" (Alcides Malandro Histórico) eternizaram a poesia e o talento desses mestres, mostrando que suas composições eram verdadeiras joias do samba.
A partir daí, a Velha Guarda da Portela se tornou um dos grupos mais respeitados do samba, levando suas canções e sua história para os palcos do Brasil e do mundo. O grupo manteve viva a tradição do samba de terreiro, do partido-alto e das rodas autênticas, preservando a identidade da Portela e inspirando novas gerações de sambistas.
Mesmo com o passar do tempo e a perda de muitos de seus integrantes originais, a Velha Guarda segue firme, renovando-se sem perder sua essência. Nomes como Tia Surica, Monarco, Serginho Procópio e outros mantiveram o legado vivo, garantindo que a história da Portela continue sendo contada através de suas vozes, seus versos e sua alma azul e branca.
A Velha Guarda da Portela não é apenas um grupo musical. É um símbolo de resistência, de respeito às raízes e de amor ao samba. Enquanto houver Portela, enquanto houver samba, sua história jamais será esquecida.